Olá, hoje vou começar pelos meus comentários.
Os comentários da última postagem me fizeram pensar e eu tenho que admitir, esse blog é meio melancólico sim, mas isso (provavelmente) se deve ao fato de eu ser uma escritora escrava dos sentimentos, sendo assim só escrevo quando estou triste, irada ou profundamente reflexiva. Uma vez eu li que “felicidade não dá tema de blog” e aqui no Confissões não dá mesmo.
Por fim deixo mais um dos meus textos “mistura de ácido e doce” como disse o André do “Blog do Andrezinho":
Naquele dia ele se levantou um pouco antes de sol raiar, sentou na cama, coçou os olhos e jogou os cabelos brancos para traz. Percebeu a escuridão que fazia e fingiu não se importar. Pôs o café para fazer na cafeteira e caçou um livro para ler ou folhear, não importava. Sem encontrar nada que o agradasse foi ao banheiro lavar o rosto como qualquer outro que acorda. Os primeiros raios de sol apareciam e o café ficou pronto. Enquanto isso, ele ainda no banheiro reparava a barba mal feita, os pontos pretos no nariz e o cabelo mais branco, com pontas desiguais e alguma caspa. Resolveu ignorar as imperfeições, aquilo não o incomodava. Ou incomodava e ele fingia não incomodar. Tomou seu café e foi esperar o sol acabar de nascer. Terminou um pouco frustrado, pois o céu nublado não cedeu muito mais luz do que já havia mostrado. Resolveu, então, se levantar daquela poltrona na varanda e se arrumar, aquele era um dia importante! Foi ao guarda-roupa e procurou seu melhor traje. Pois um frack no corpo ainda amassado, uma cartola nos cabelos desgrenhados e uma loção qualquer na barba mal feita. Sentiu-se um rei. Resolveu que iria passear ir a algum parque, quem sabe, afinal aquele era um dia importante. Saiu.
Na rua, as poucas pessoas que saiam para trabalhar, ou que chegavam do trabalho, ou até aquelas que estavam na rua por estar de manhã, tão cedo, viram aquele homem e cada um imaginou um motivo diferente para aquela roupa tão inusitada, mas todos concordaram – mesmo sem dizer uma palavra – aquilo era loucura.
Ela acordou lenta ainda por causa do sono e foi até ao quarto ao lado. A lentidão terminou e o desespero tomou o seu lugar. Vasculhou o guarda-roupa dele. Faltava o velho e empoeirado frack, começou a gritar o nome dele, inútil. Trocou de roupa em absurda velocidade. Correu, apertou o botão para abrir a porta da garagem, ligou o carro e saiu em disparada procurando por ele. Não conseguia se lembrar se havia fechado o portão da garagem ou não. Não era importante no momento. Após rodar quatro quarteirões o encontrou sentado no parque da cidade, com seu frack e um sorriso singelo a observar os pássaros no chão. Ela estacionou o carro e correu na direção dele gritando apavorada: “Papai, papai!” Ele ao ouvir, olhou para ela e sorriu, e como se nada tivesse acontecido a perguntou como estava e dizia que há muito não a via e quanta saudade sentia. Ela o segurando pela mão dizia: “Vamos papai, vamos voltar para casa. Assim o senhor pode vestir roupas mais adequadas para uma quarta-feira e tomar seus remédios.” Ele hesitou e repetia que queria ficar ali, e com aquelas roupas especiais, porque era um dia especial. E ela com a paciência já gasta, falava: “Mas o senhor tem consulta no psiquiatra hoje. Temos que ir papai, se o senhor continuar assim eles vão internar o senhor de vez.” E ele em resposta, ainda sorrindo disse: “Fique aqui comigo, tenho tanta saudade, nós não nos falamos há tanto tempo e hoje é um dia tão especial.” Ela, revirando os olhos dizia pausadamente: “Papai nos vimos ontem à noite e hoje é uma quarta-feira nublada como qualquer outra.” Ele, em tom baixo: “Mas eu sinto saudade e hoje eu vi o sol nascer, hoje é um dia tão especial.”
Ela ficou sem entender, mas resolveu deixar pra lá, afinal na loucura não há razão.