Confissões em um Divã

O verdadeiro esconderijo de meus devaneios

3:44 PM

Qual é o seu nome?

Mais um devaneio de Thaise de Melo |


Era uma tarde de outono, ventava frio e o céu estava claro. Ela estava sentada num banco de madeira no meio do parque lendo um livro. As árvores balançavam e as folhas amareladas caiam em volta. Ele se sentou ao lado dela, com seu casaco pesado e acendeu um cigarro. Ela percebeu que ele havia sentado, interrompeu sua leitura e olhou fixo a fumaça.

- Desculpe-me. A fumaça te incomoda?

- Não. Na verdade não.

- Ah. É porque você olhava tanto para ela.

- Eu gosto dela. Me lembra dois extremos. Consigo ver almas fugindo e anjos voando.

- Como assim?

- Na fumaça que sai. Ela sai rápida e fina, depois se expande e continua a subir. Vejo como se fossem almas que estão fugindo de algum lugar, e sobem como se não quisessem voltar jamais. Mas também vejo anjos, que saem e fazem vôos rasantes, e passeiam até que voltem para o céu. Eu gosto dessa fumaça.

- Nossa! Isso é novo pra mim. Para não dizer estranho.

- Eu sei... Vai ver eu sou novidade.

- Para mim é. Nunca tinha visto alguém que gostasse de fumaça de cigarro.

- É belo, basta saber olhar.

E ela voltou a ler seu livro, como se nada tivesse acontecido e o silêncio pairou no lugar, o vento era o único som audível, como que por milagre no meio de um parque no meio da cidade. Ele parou de olhar a fumaça do cigarro e se apavorou ao perceber isso. Ela não se importou.

- Vai acontecer uma chuva de meteoros hoje. – Ele disse.

- Por quê?

- Porque a Terra vai passar pelos restos de um cometa que eu não lembro o nome, e os escombros vão parecer estrelas cadentes vistas daqui.

- Você quer dizer que algo explodiu e vai cair na Terra?

- Basicamente isso...

- E você não tem medo? Num dizem que foi assim que os dinossauros morreram?

- Quando chegarem aqui não farão nenhum mal... Se chegarem...

- Como assim?

- Geralmente os pedaços do cometa se desintegram antes de chegar no chão.

Ela ficou quieta e o silêncio novamente parou no lugar, ele pensou em quebrá-lo de novo, mas ouviu uma buzina de carro e se acalmou, como se o barulho lhe fizesse se sentir seguro – ele não sabia qual a ligação entre barulho e segurança, mas preferia saber que existia poluição e civilização ao redor – e acendeu outro cigarro.

- E as pessoas não fazem pedidos a estrelas cadentes? – Ela perguntou subitamente.

- Fazem, oras...

- Por que as pessoas insistem em confiar em tudo que é decadente?

- Talvez porque elas pensem que tudo que vem do alto é superior.

- Mas elas também jogam moedas num poço bem fundo...

- Talvez as pessoas queiram apenas acreditar em algo que mostre que elas não sejam tão vazias ou pessimistas...

- Então, pra você, as pessoas desejam tudo pra qualquer coisa, só pra não se sentirem vazias?

- Ou só para dizerem que tem fé... Entenda do jeito que quiser...

- Tinha me esquecido da necessidade de fé das pessoas...

- Não se preocupe a maioria das pessoas ou esquecem que tem fé ou são loucas de tanto tê-la...

- Entenda como quiser... Não é mesmo?

- É. É loucura, não se preocupe.

- Talvez os loucos não passem de incompreendidos.

- Não acredito muito nisso, loucos são loucos.

Uma sucessão de buzinas começaram a tocar cada uma em um tom e volume diferentes parecendo uma orquestra sem maestro.

- Você não acha loucura essa barulheira da cidade? Adeus. – Ela disse.

Ele ficou parado olhando pra ela, como quem vê um milagre e ainda assim não acredita. Ela se levantou pegou o seu livro e foi andando em direção a saída. Ele foi acompanhando ela com o olhar, até perdê-la de vista. Então, ele deu a última tragada no seu cigarro e se levantou para retomar seu caminho, e percebeu que apesar de todas as perguntas sem sentido ele não havia feito a mais comum delas...

- Isso é loucura! – Ele se pegou exclamando baixinho.

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Não, eu não cometi suicídio.

Sim, minha fase Macabéa passou e eu estou melhor. ^^

Bem mais um texto sobre loucura...

Acho que esse divã vai sair do consultório do psicólogo e passar para um psiquiatra.

Bem, desculpem a demora pra atualizar é que eu não estava escrevendo nada que prestasse, e sempre que isso acontece eu prefiro não postar á postar uma boboseira qualquer.

Beijoos.

Fiquem em paz.