Era uma tarde de outono, ventava frio e o céu estava claro. Ela estava sentada num banco de madeira no meio do parque lendo um livro. As árvores balançavam e as folhas amareladas caiam em volta. Ele se sentou ao lado dela, com seu casaco pesado e acendeu um cigarro. Ela percebeu que ele havia sentado, interrompeu sua leitura e olhou fixo a fumaça.
- Desculpe-me. A fumaça te incomoda?
- Não. Na verdade não.
- Ah. É porque você olhava tanto para ela.
- Eu gosto dela. Me lembra dois extremos. Consigo ver almas fugindo e anjos voando.
- Como assim?
- Na fumaça que sai. Ela sai rápida e fina, depois se expande e continua a subir. Vejo como se fossem almas que estão fugindo de algum lugar, e sobem como se não quisessem voltar jamais. Mas também vejo anjos, que saem e fazem vôos rasantes, e passeiam até que voltem para o céu. Eu gosto dessa fumaça.
- Nossa! Isso é novo pra mim. Para não dizer estranho.
- Eu sei... Vai ver eu sou novidade.
- Para mim é. Nunca tinha visto alguém que gostasse de fumaça de cigarro.
- É belo, basta saber olhar.
E ela voltou a ler seu livro, como se nada tivesse acontecido e o silêncio pairou no lugar, o vento era o único som audível, como que por milagre no meio de um parque no meio da cidade. Ele parou de olhar a fumaça do cigarro e se apavorou ao perceber isso. Ela não se importou.
- Vai acontecer uma chuva de meteoros hoje. – Ele disse.
- Por quê?
- Porque a Terra vai passar pelos restos de um cometa que eu não lembro o nome, e os escombros vão parecer estrelas cadentes vistas daqui.
- Você quer dizer que algo explodiu e vai cair na Terra?
- Basicamente isso...
- E você não tem medo? Num dizem que foi assim que os dinossauros morreram?
- Quando chegarem aqui não farão nenhum mal... Se chegarem...
- Como assim?
- Geralmente os pedaços do cometa se desintegram antes de chegar no chão.
Ela ficou quieta e o silêncio novamente parou no lugar, ele pensou em quebrá-lo de novo, mas ouviu uma buzina de carro e se acalmou, como se o barulho lhe fizesse se sentir seguro – ele não sabia qual a ligação entre barulho e segurança, mas preferia saber que existia poluição e civilização ao redor – e acendeu outro cigarro.
- E as pessoas não fazem pedidos a estrelas cadentes? – Ela perguntou subitamente.
- Fazem, oras...
- Por que as pessoas insistem em confiar em tudo que é decadente?
- Talvez porque elas pensem que tudo que vem do alto é superior.
- Mas elas também jogam moedas num poço bem fundo...
- Talvez as pessoas queiram apenas acreditar em algo que mostre que elas não sejam tão vazias ou pessimistas...
- Então, pra você, as pessoas desejam tudo pra qualquer coisa, só pra não se sentirem vazias?
- Ou só para dizerem que tem fé... Entenda do jeito que quiser...
- Tinha me esquecido da necessidade de fé das pessoas...
- Não se preocupe a maioria das pessoas ou esquecem que tem fé ou são loucas de tanto tê-la...
- Entenda como quiser... Não é mesmo?
- É. É loucura, não se preocupe.
- Talvez os loucos não passem de incompreendidos.
- Não acredito muito nisso, loucos são loucos.
Uma sucessão de buzinas começaram a tocar cada uma em um tom e volume diferentes parecendo uma orquestra sem maestro.
- Você não acha loucura essa barulheira da cidade? Adeus. – Ela disse.
Ele ficou parado olhando pra ela, como quem vê um milagre e ainda assim não acredita. Ela se levantou pegou o seu livro e foi andando em direção a saída. Ele foi acompanhando ela com o olhar, até perdê-la de vista. Então, ele deu a última tragada no seu cigarro e se levantou para retomar seu caminho, e percebeu que apesar de todas as perguntas sem sentido ele não havia feito a mais comum delas...
- Isso é loucura! – Ele se pegou exclamando baixinho.
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Não, eu não cometi suicídio.
Sim, minha fase Macabéa passou e eu estou melhor. ^^
Bem mais um texto sobre loucura...
Acho que esse divã vai sair do consultório do psicólogo e passar para um psiquiatra.
Bem, desculpem a demora pra atualizar é que eu não estava escrevendo nada que prestasse, e sempre que isso acontece eu prefiro não postar á postar uma boboseira qualquer.
Beijoos.
Fiquem em paz.
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