Eu sinto falta do que nunca vi, do que nunca vivi, do que nunca senti. Sinto o cheiro de algo que não existe, que ainda não foi inventado, que ainda não pensei, nem imaginei. Meu coração bate em desespero por algo que não é, que não respira, que não surge, nem some. Sinto a ausência do que quero e não existe. Ou do que existe e eu não aceito. É sem importância.
O cotidiano atormenta, a incessante reprise da mesma cena enjoada, a falta de cansaço ou excesso dele, as mesmas melancolias dramáticas e insossas. Semana passada havia cor no horizonte, hoje o passado é preto e branco. E ainda vale a pena. Ou será que tudo não é colóquio sonolento para acalentar o bovino, e será que tudo não passa de um nada sem importância, que logo se esvairá em lembranças de pequenos flashes dos momentos de sorrisos dados sem motivo ou com algum? E ainda vale a pena?
Já não é nítido se há motivo para continuar ou não. Mas há temor. E o temor vale como motivo? De que adiante ter o que não ser quer nas mãos? E adianta ter nada nelas? E quando o que se quer não há?
Perguntas que não fazem nexo. Perguntas que não deveriam ser feitas. E que só para o simples, desgostoso e tentador auto-tormento repito incessantemente a cada noite de insônia. Só pra ter o prazer - meio mórbido, admito – de ouvir a alma gritar e explodir em letras e palavras e textos e histórias que nunca deveriam ter existido, que nunca deveriam ser contados, que deveriam continuar em segredo escondidos dentro de um baú velho e empoeirado em um canto escuro qualquer. Mas faço a questão de lançá-los a luz só para o prazer egoísta de tornar real – mesmo que por pouco tempo – o que eu quero e desejo, aquilo que não existe, aquilo que nunca foi. E depois, com algum pesar, talvez, vê-lo novamente esmorecer e sumir, para que eu novamente possa fazer-lhe ser.
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- Você entendeu?
Beijooos!